Eficiência energética na rota do aquecimento termossolar

Eletrobras/Procel realiza oficina a fim de identificar barreiras ainda existentes e delinear ações sinérgicas visando ao desenvolvimento e aperfeiçoamento da geração termossolar no país

A exemplo de vários países que vêm organizando práticas de aquecimento solar, o Brasil também vem buscando aperfeiçoar atividades de aproveitamento desse tipo de energia. Para incentivar as discussões sobre as iniciativas de uso da fonte termossolar, a Eletrobras, no âmbito do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), realizou uma oficina na última quarta-feira, 14 de abril, no Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de representantes da agência alemã de fomento à eficiência energética GTZ, Caixa Econômica Federal, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar condicionado, Ventilação e Aquecimento (Dasol/Abrava), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, entre outros.

A oficina teve como objetivo identificar barreiras ainda existentes e delinear ações sinérgicas visando ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do setor. De acordo com o gerente da Divisão de Eficiência Energética na Oferta da Eletrobras, Emerson Salvador, uma das dificuldades encontradas é a falta de conhecimento em universidades e escolas técnicas do uso da energia solar. “É uma vertente que o Procel pode ajudar por meio do fornecimento de material didático, e desenvolvimento de software para simulação, por exemplo”, diz.

O programa de habitação Minha Casa, Minha Vida também conta com o apoio da Eletrobras/Procel. Em parceria com o GTZ e Abrava, a Caixa realizou em agosto do ano passado e em março deste ano um treinamento com engenheiros e arquitetos que auxiliarão os consumidores que adquirirem um sistema de aquecimento solar de água. “A Caixa nos procurou para definir de que forma e qual o tipo de equipamento que o usuário pode optar”, conta Emerson Salvador. A previsão é que seja realizado mais um curso para 40 profissionais no segundo semestre deste ano.

Outra iniciativa, segundo Salvador, que pode ser adotada pela Eletrobras/Procel é o acompanhamento do sistema após sua instalação. “Nós podemos visitar residências, fazer medições e monitorar os ganhos de economia, além de levar informações qualificadas às pessoas que instalarem o equipamento”, acrescenta. O programa do governo federal ampliou os valores máximos para financiamento de imóveis com este tipo de equipamento.

Ainda de acordo com Salvador, pesquisas apontam que menos de 1% da população brasileira utiliza sistemas de aquecimento solar. Devido ao racionamento de energia em 2001 e mais recentemente por questões de sustentabilidade, este número vem crescendo. “As pessoas estão mais conscientes com relação ao uso dos meios naturais”, diz. Salvador acredita que a falta de informação sobre o equipamento e o custo ainda elevado são alguns dos motivos para a pouca utilização dos sistemas de aquecimento solar no Brasil.

Uma pesquisa coordenada por Elizabeth Pereira que, na época era professora da PUC-MG, avaliou a situação das instalações de aquecimento solar no Brasil para as modalidades banho e piscina, em residências, hotéis, edifícios e indústrias. Foi realizado um levantamento in loco das condições reais de dimensionamento, projeto, instalação, operação e vida útil dos sistemas de aquecimento solar e análise comportamental dos usuários frente à tecnologia. Uma das conclusões do estudo foi a necessidade de capacitação de recursos humanos em todos os níveis de atuação do aquecimento solar. As cidades pesquisadas foram Belém (PA), Porto Seguro (BA), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro, Campinas (SP) e Bauru (SP). O treinamento e a pesquisa de campo foram realizados em parceria com diversas universidades.

“Pesquisas apontam que menos de 1% da população brasileira utiliza sistemas de aquecimento solar. Devido ao racionamento de energia em 2001 e mais recentemente por questões de sustentabilidade, este número vem crescendo”, diz Emerson Salvador, do Procel
A aplicação dos sistemas de aquecimento solar, segundo Elizabeth, é maior em residências populares e nas casas de classe alta. “Há um esforço no país para levar o equipamento para a população de baixa renda, principalmente pelo programa Minha Casa Minha Vida, já que o custo é alto para essas famílias”, destaca. Uma família de baixa renda gastaria em torno de R$ 1.800 a R$ 2.000 para instalar um sistema de aquecimento solar. A pesquisa mostrou ainda que as pessoas nao têm acesso à informação sobre aquecimento solar. “O consumidor final tem pouca informação sobre a tecnologia, então às vezes isso compromete a operação. Por isso, há a necessidade de programas de divulgação, para mostrar que é facil trabalhar com aquecimento solar”, avalia Elizabeth.

A colaboração da Eletrobras/Procel para o desenvolvimento de sistemas de aproveitamento da energia solar teve início em 2000, com a concessão do Selo Procel para as placas e reservatórios mais eficientes. Em 2001, a companhia colaborou com o projeto de atendimento à comunidade de baixa renda na cidade de Contagem, em Minas Gerais, onde sistemas de aquecimento de água com selo Procel foram instalados. Os benefícios econômicos e energéticos proporcionados pela instalação foram monitorados pelo Procel.

Em 2005, foi inaugurado o primeiro simulador solar da América Latina, por meio da parceira entre o governo brasileiro e o Banco Mundial com recurso, a fundo perdido, do Global Environment Facility de US$ 6 milhões para estruturar uma rede nacional de laboratórios para ensaios em eficiência energética para etiquetagem e concessão do selo Procel. O projeto permitiu a capacitação de 24 laboratórios. Dois deles são voltados especificamente para energia solar.

Localizado na PUC-MG, nestes laboratórios são realizados ensaios em placas solares, enquanto que no Instituto de Pesquisa Tecnológica, em São Paulo, são feitos testes em reservatórios térmicos.

Para os próximos anos, a Eletrobras/Procel pretende definir as ações prioritárias, seus parceiros e as linhas de financiamento para colocar em prática os projetos. “Precisávamos de uma visão dos professores, técnicos, pesquisadores e dessa sinergia para gerar alguns insights de ação e isso foi feito. Agora é colocar em prática estas iniciativas”, finaliza Emerson Salvador, do Procel.

Dayanne Jadjiski, para o Procel Info

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